terça-feira, 19 de junho de 2012

Codex Manesse, séc XIV, Alemanha

Codex Manesse, séc XIV, Zurique - Alemanha.
Fólio 249, frente. Biblioteca da universidade e Heildelberg.

Bom dia,
Não começarei o texto desta postagem enaltecendo a beleza desta iluminura. Deixemos isso para os historiadores da arte do séc XIX. Eles adoravam qualificar algo como belo, feio, grotesco... coisas do tipo e a filosofia costumava analisar este tipo de obra idealizando a mentalidade do autor da obra e de seu contexto. Evitarei, na medida do possível, fazer uma descrição e análise da obra baseada em discursos que reduzem ou enaltecem certos aspectos baseados, no fundo, segundo o que EU considero como arte ou não. Isso começou no séc XVIII com as idéias excludentes das "Belas Artes" e diminuiu com as "Vanguardas Históricas" das primeiras décadas do séc XX. Estou no séc XXI e tento ter um discurso baseado na corrente de pesquisa que sigo: A História das Imagens.
Primeiro, as explicações: 
"Belas Artes": 
Grupos de renomados aristocratas e artistas europeus que resolveram definir o que seria "arte" ou não, a partir do séc XVIII. A pintura à óleo continuou sendo a técnica maior das artes e outras formas de expressão artística, como as gravuras, foram relegadas ao título de "estudos".
"Vanguardas Históricas": 
Início do séc XX. Para os intelectuais e artistas europeus, o período mostrou como a Civilização Ocidental era uma farsa, um erro, pois arrastou a Europa e o mundo para a Guerra e suas calamidades humanas. Estes "vanguardistas" usaram os meios de que dispunham (cinema, fotografia, impressão, teatro, literatura) para questionar o classicismo na arte e propunham novas formas de expressão, mais "modernas", além de revalorizar estilos, épocas e técnicas antes consideradas de valor menor.


Codex Manesse, séc XIV, Alemanha.
Fólio319 frente. Biblioteca da universidade e Heildelberg.

O contexto histórico no qual o Codex Manesse foi produzido viveu intensos embates políticos no Império Germânico na dinastia dos Hohenstaufen. As batalhas internas por poder, minaram, gradativamente, a força dos imperadores germânicos. A aristocracia tentava se manter de pé. Um dos meios de enaltecer sua condição sócio-política frente aos novos burgueses comerciantes e a tradicional e cada vez mais forte, força papal, foi a exaltação de sua "classe". O Codex Manesse, possui várias características que enaltecem a condição dos nobres do período nesta região da Europa. 
A começar pela escolha que os diversos iluminadores do Codex fizeram por se distanciarem das "normas" comumente usadas na iluminação de livros de conteúdo sacro.Veja a imagem abaixo e compare-a com as do Codex Manesse. (Lembrem-se, os artesãos que "iluminavam" os livros, os que faziam desenhos e pinturas, eram iluminadores, não "iluministas". Estes, são aqueles do "iluminismo"). 

Saltério de De Lisle, séx XIV, Londres - Inglaterra
Fólio 124, frente. British Library, Londres.

As representações seguem as linhas curvilíneas e expressivas do gótico tardio, mas  asfiguras do Codex Manesse possuem um porte e expressividade mais serenos, menos formais, desta nobreza cortesã e guerreira. São iluminuras com representações de gênero, ou seja, de atividades rotineiras: "Caçando, jogando, participando de espetáculos cortesãos, como música em um baile. Comendo, bebendo, banhando-se na natureza ou conversando familiarmente e abraçando com ternura sua amada" (Obras maestras, p.197, tradução livre)


Codex Manesse, séc XIV, Alemanha.
Fólio184, verso. Biblioteca da universidade e Heildelberg.


"Introduz variações nos retratos enfatizando determinados atributos aos personagens: Uma Espada ao cavaleiro ... um adorno floral ao poeta". (Obras maestras, p. 197, tradução livre). Retornem à primeira imagem: A nobreza do séc XIV, esta dos códigos de cavalaria e das canções de amor cortês, tinha como um dos símbolos de distinção social a caça com cães. Mas, nobre mesmo, era caçar com gaviões treinados. Este da iluminura, está comendo o "petisco"  que o jovem nobre mantém na mão para manter o pássaro sem voar. É um pedaço de carne ensanguentada, normalmente, de frango.

Por fim, em meio ao caos das disputas por poder, a arte foi utilizada para, não apenas enaltecer um estamento, mas, sobretudo, através de uma representatividade menos formal, atingir de forma mais enfática o âmago da sociedade em livros de conteúdo profano (não sacro) mostrando a riqueza cultural, guerreira e econômica dos Hohenstaufen para, assim, tentar impor e manter a sua hegemonia. Valeram-se, neste códice, da imagem que idealizavam ou que realmente tinham de si mesmos.

Bárbara Covre

Bibliografia: WALTHER/WOLF. Obras maestras de la iluminación. Pags 196-199. Colônia: Taschen: 2005. 

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